Ciência quântica da formiga
André Carneiro
Combino a relatividade geral
com o princípio da incerteza.
Troco buracos negros por brancos,
risco as singularidades,
contenho o universo
sem limites.
O infinito coloco
na curvatura
do espaço-tempo.
No lençol do mundo
costuro filamentos,
nas margens
ponho glúons e quarks,
faço a maquete
tridimensional
teórica.
Modelo em código,
não serve para o quarto,
nem ajuda o desespero
do encontro falho.
Sinto sede, fome e orgasmo.
Também corto a folha, coloco nas costas,
sigo túneis curvos,
deposito o alimento
para os fungos.
Volto ao sol da tarde,
gigantes e poderosos
esmagam a cada passo
meus irmãos carentes,
treino centúrias,
cresço além dos ratos e baratas,
reconstruo a biblioteca
de Alexandria,
invento a alma invisível
na carne transitória.
Insectos Alienígenas
André Carneiro
Não respondo imediatamente
cartas que recebo.
Olho-as de lado,
descubro outras tarefas,
o futuro romperia
se eu eliminasse os compromissos.
Nas letras soldo minhas veias,
amo os objectos,
barcos que me levam pelo dias.
Alheios defeitos doem,
porque são espelhos.
A sina me levantou em duas patas,
a coluna mal sustenta o orgulho
da cabeça erguida.
Tenho de lançar raízes,
inventar o sonho,
amar a fêmea, o filho, a arte.
Acabo antes de viajar no cosmos,
visitar planetas,
comparar insectos alienígenas,
talvez melhores.
André Carneiro
Meu micro
O micro pergunta
ansioso,
se quero apagar a memória.
Gravo SIM nas teclas trémulas.
Algum atirador emérito
nomeou Winchester
esta redonda massa cinzenta
que me alerta
falhas ortográficas
e acerta a estética
das palavras.
Nascido em priscas eras,
agora sou traço de luz verde
(ou vermelha)
nas máquinas bancárias,
dono magnético dos disquetes,
minha mão direita
segura o rato,
leva a flecha
através das janelas.
O micro ronrona
circunvoluções misteriosas,
absorve versos
que voltam na tela.
Um especialista de sistemas,
analiticamente freudiano,
soma lapsos, silêncios e
brancos,
para o diagnóstico cibernético
do meu trajecto humano.
Ondas Quânticas
André Carneiro
O universo só existe
quando observo.
Lento voo da asa,
teu andar de praia,
a nuvem gorda de água
desaparecem
se eu falho.
Penso, alto atravessa
e molda um fato.
O espelho me inventa,
a ruga não sou eu quem traço.
Comprimo o corpo de átomos
entro nos túneis de mundo
e passo.
Você sorri,
não acredita no insecto dourado
quando eu pouso na face.
Energias quânticas
modelam seios e braços.
Retrato não reconheço,
linhas do rosto,
corpo e vontade desmancho,
teço de novo, sou co-autor
sem nenhum quadro.
Explico o momento,
a nave tomba,
gotas translúcidas
giram prótons e neutrons
neste céu de Maio.
Sorriso de cinema vale
vinte e quatro passos
por segundo, o planeta gira
completamente tonto.
Dentro deste verso
sua boca muda,
deslizo de skate
no suave das nádegas,
aqueço veias
no ouro caminho do ventre.
A pequena morte pulveriza
meu corpo imortal,
o beijo solda lábios,
só a memória falece.
André Carneiro
Combino a relatividade geral
com o princípio da incerteza.
Troco buracos negros por brancos,
risco as singularidades,
contenho o universo
sem limites.
O infinito coloco
na curvatura
do espaço-tempo.
No lençol do mundo
costuro filamentos,
nas margens
ponho glúons e quarks,
faço a maquete
tridimensional
teórica.
Modelo em código,
não serve para o quarto,
nem ajuda o desespero
do encontro falho.
Sinto sede, fome e orgasmo.
Também corto a folha, coloco nas costas,
sigo túneis curvos,
deposito o alimento
para os fungos.
Volto ao sol da tarde,
gigantes e poderosos
esmagam a cada passo
meus irmãos carentes,
treino centúrias,
cresço além dos ratos e baratas,
reconstruo a biblioteca
de Alexandria,
invento a alma invisível
na carne transitória.
Insectos Alienígenas
André Carneiro
Não respondo imediatamente
cartas que recebo.
Olho-as de lado,
descubro outras tarefas,
o futuro romperia
se eu eliminasse os compromissos.
Nas letras soldo minhas veias,
amo os objectos,
barcos que me levam pelo dias.
Alheios defeitos doem,
porque são espelhos.
A sina me levantou em duas patas,
a coluna mal sustenta o orgulho
da cabeça erguida.
Tenho de lançar raízes,
inventar o sonho,
amar a fêmea, o filho, a arte.
Acabo antes de viajar no cosmos,
visitar planetas,
comparar insectos alienígenas,
talvez melhores.
André Carneiro
Meu micro
O micro pergunta
ansioso,
se quero apagar a memória.
Gravo SIM nas teclas trémulas.
Algum atirador emérito
nomeou Winchester
esta redonda massa cinzenta
que me alerta
falhas ortográficas
e acerta a estética
das palavras.
Nascido em priscas eras,
agora sou traço de luz verde
(ou vermelha)
nas máquinas bancárias,
dono magnético dos disquetes,
minha mão direita
segura o rato,
leva a flecha
através das janelas.
O micro ronrona
circunvoluções misteriosas,
absorve versos
que voltam na tela.
Um especialista de sistemas,
analiticamente freudiano,
soma lapsos, silêncios e
brancos,
para o diagnóstico cibernético
do meu trajecto humano.
Ondas Quânticas
André Carneiro
O universo só existe
quando observo.
Lento voo da asa,
teu andar de praia,
a nuvem gorda de água
desaparecem
se eu falho.
Penso, alto atravessa
e molda um fato.
O espelho me inventa,
a ruga não sou eu quem traço.
Comprimo o corpo de átomos
entro nos túneis de mundo
e passo.
Você sorri,
não acredita no insecto dourado
quando eu pouso na face.
Energias quânticas
modelam seios e braços.
Retrato não reconheço,
linhas do rosto,
corpo e vontade desmancho,
teço de novo, sou co-autor
sem nenhum quadro.
Explico o momento,
a nave tomba,
gotas translúcidas
giram prótons e neutrons
neste céu de Maio.
Sorriso de cinema vale
vinte e quatro passos
por segundo, o planeta gira
completamente tonto.
Dentro deste verso
sua boca muda,
deslizo de skate
no suave das nádegas,
aqueço veias
no ouro caminho do ventre.
A pequena morte pulveriza
meu corpo imortal,
o beijo solda lábios,
só a memória falece.
Confesso
André Carneiro
Tenho oito teleclones,
dois em meu quarto,
na cozinha, no banheiro...
Minha secretária biónica
inventa recados
quando a solidão permanece em silêncio.
Não registro patentes
meu captador holográfico
copia átomos,
transmigro almas
escondidas
na massa cinzenta.
Projecto o aparelho,
réplica do
criador de mulheres
com ossos no peito.
Parafísico,
uso almofariz
e o silício do chip.
Pálpebras fechadas,
invento carne nas palmas,
calor do seio nos lábios
e o mundo desaba
em minha cabeça.
André Carneiro
André Carneiro
Tenho oito teleclones,
dois em meu quarto,
na cozinha, no banheiro...
Minha secretária biónica
inventa recados
quando a solidão permanece em silêncio.
Não registro patentes
meu captador holográfico
copia átomos,
transmigro almas
escondidas
na massa cinzenta.
Projecto o aparelho,
réplica do
criador de mulheres
com ossos no peito.
Parafísico,
uso almofariz
e o silício do chip.
Pálpebras fechadas,
invento carne nas palmas,
calor do seio nos lábios
e o mundo desaba
em minha cabeça.
André Carneiro
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